Gravura de Debret mostrando índios sendo escravizados por portugueses
[...] Na verdade, o que aconteceu é que o mecanismo empreendido para o extermínio dos indígenas simplesmente agora atingiu certa "perfeição" graças aos meios técnicos atuais: rajadas de metralhadoras e bombardeios aéreos, distribuição de alimentos e roupas previamente infectadas por micróbios, bombons envenenados... História de ontem, história de quatro séculos, história de hoje..." (BUENO, Eduardo).
A situação indígena na atualidade, traz na verdade resquícios cruéis de um passado histórico que vem se desenvolvendo nos últimos 500 anos desde a colonização das Américas.
"Somos vencidos. Ganharam a guerra. Nós perdemos por acreditar neles." (GALLEANO, E.).
LEON-PORTILLA, mostra claramente em sua historiografia a desistência paulatina dos indígenas, visto que qualquer tentativa de sobrevivência de sua antiga forma de vida seria inútil. "O quéchua* aprendeu em seu íntimo a desprezar os "inimigos barbudos". Com uma mistura de ironia, de motejo e de medo, continuou chamando os espanhóis de huiracochas. Aprendeu a baixar a cabeça e a temer os conquistadores e encomenderos. Como seus irmãos astecas e maias, aceitou a nova religião, mas conservou tradições e crenças dos tempos antigos. A posterior conclusão do quéchua foi resignar-se em meio à desgraça."
GALLEANO, ironicamente cita em sua crônica: "Os índios são bobos, vagabundos; bêbados." A desestruturação dessa sociedade gerada pela violência espanhola, leva os índios a uma decadência física, moral e emocional. "Um dos sintomas mais dramáticos da desintegração da cultura nativa e da angústia a que ela dava origem era o alcoolismo: um fenômeno observado por todos os cronistas" (WACHTEL, Nathan).
A sociedade Inca utilizava-se de bebidas ardentes ou chá de coca, apenas em cerimônicas religiosas mediante a autorização do Inca* ou de seu governador, porém após a conquista a espanhola, a produção e consumo da coca aumentou consideravelmente, para que aumentasse a resistência dos índios ao trabalhar nas minas quase sem comer, "começaram a viciar-se nela depois que os espanhóis entraram neste país." (PORTILLA, Miguel)
Os indígenas inicialmente, acreditavam que os espanhóis eram deuses, e esses se aproveitando de sua inocência, os enganaram roubando-lhes o ouro, a dignidade e a vida, logo "surgiu a idéia de que a presença dessa gente significava o fim irreversível da antiga maneira de vida." (LEON-PORTILLA, Miguel)
A elegia anônima em honra de Atahualpa é uma ilustração dessa realidade:
"Sob estranho império, acumulados os martírios e destruídos,
perplexos, extraviados, negada a memória; sós;
morta a sombra que protege,
choramos,
sem ter a quem e aonde volver.
Estamos delirando..."
perplexos, extraviados, negada a memória; sós;
morta a sombra que protege,
choramos,
sem ter a quem e aonde volver.
Estamos delirando..."
por Sandra Baptista
*elegia: é uma poesia triste, melancólica ou complacente, especialmente composta como música para funeral, ou um lamento de morte.
*Quíchua: além do dialeto é também o indivíduo nativo dos Andes
*Inca: Imperador do império Inca (América do Sul)
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