´Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele" Lévi Strauss

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Os índios/2




A linguagem como traição: gritam carrascos para eles. No Equador, os carrascos chamam de carrascos as suas vítimas:

- Índios carrascos! - gritam.

De cada três equatorianos, um é índio. Os outros dois cobram dele, todos os dias, a derrota histórica.
- Somos os vencidos. Ganharam a guerra. Nós perdemos por acreditar neles. Por isso - me diz Miguel, nascido no fundo da selva amazônica.

São tratados como os negros na África do Sul: os índios não podem entrar nos hotéis ou nos restaurantes.

- Na escola metiam a lenha em mim quando eu falava a nossa língua - me conta Lucho, nascido ao sul da serra.

- Meu pai me proibia de falar quecha. É pelo seu bem, me dizia - recorda Rosa, a mulher de Lucho.

Rosa e Lucho vivem em Quito. Estão acostumados a ouvir:
- Índio de merda.

Os índios são bobos, vagabundos, bêbados. mas o sistema que os despreza, despreza o que ignora, porque ignora o que teme. Por trás da máscara do desprezo, aparece o pânico: estas vozes antigas, teimosamente vivas, o que dizem? O que dizem quando falam? O que dizem Linkquando calam?

Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços

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