´Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele" Lévi Strauss

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Comentando - A Sociedade contra o Estado - Pierre Clastres


Comentário sobre o texto A SOCIEDADE CONTRA O ESTADO de Pierre Clastres

Por Sandra Baptista

Reconhece-se habitualmente por civilização, a sociedade constituída por um povo comandado por um Estado. Ou seja, indivíduos delegam poderes a um sistema de governo que se predispõe a organizar e manter a ordem e o bem comum, baseado em leis e sistemas de “policiamento”. Tudo o que escapa além desse conceito é tido como marginal e inferior.

Para uma sociedade que se guia por valores de posses, domínios e absoluta intolerância quanto às diferenças de conceitos e concepção de vida, é praticamente incompreensível que outra sociedade possa evoluir de uma forma diferente.

As sociedades primitivas, chamadas de selvagens, apesar da aparência de pura simplicidade, possuíam valores diferentes dos nossos, mas nem por isso inferiores. Apenas possuíam uma concepção singular da vida, onde se percebiam como parte integrante da terra, e não proprietários dela. Ora, se somos partes integrantes da terra que nos supre e nos acomoda, logo não temos com o que nos preocupar gerando excedentes pelo medo da falta.

O trabalho não era encarado com uma tarefa árdua e maldita, de onde se deveria retirar uma compensação, através de acúmulos de bens. Os indivíduos trabalhavam e celebravam a vida, percebendo-se parte dela, sem a menor necessidade de controlá-la e controlar a outros. Produziam apenas o necessário para sua sobrevivência. Comiam quando tinham fome e dormiam quando tinham sono. Respeitavam o ritmo natural da vida que tinham e não tinham interesses maiores do que esses.

Uma forma de vida simples como essa, e ao mesmo tempo tão funcional, certamente provoca demais a ira de uma sociedade antagônica, onde o trabalho é visto como uma forma de se conquistar o poder, tentando controlar o fluxo da vida e de outras vidas tidas como “menores”e pouco ou nada “evoluídas”, de acordo com seus critérios. Essa sociedade se desgarrou da natureza e já não se reconhece mais como parte integrante dela. Tudo o que foge desse conceito é “menos” e precisa ser destruído ou aculturado.

Mas por que essa necessidade de controle de poder e acúmulos de excedentes? Por que tanta necessidade do extermínio daquilo que se mostra diferente? Talvez, um medo oculto de se ter que rever valores e modificar velhos conceitos.

O que torna uma sociedade superior a outra? Qual o critério, a referência para tamanha suposição?

Visto que nem a tecnologia, como a apresentação do metal, foi capaz de modificar os costumes indígenas, o que nos faz pensar que eles sejam “atrasados”?

Por que achar que eles possam estar à margem do caminho da evolução? Todo caminho deve nos levar a algum lugar, e toda a evolução deve ter um sentido. Qual será então o caminho? Qual o destino? E qual o sentido? Onde estará escrita esta resposta, de forma imparcial que poderia ser interpretada como um manual de sobrevivência no planeta?

Penso que vivermos como os índios, já seria quase impossível, depois de termos nos acostumado aos confortos tecnológicos que a produção de excedentes nos proporciona. Por outro lado, sendo índios, fatalmente a vida moderna, frustraria todos os anseios mais básicos de uma vida primitiva, mas não menos importante.

Creio que o melhor caminho de evolução do povo indígena, seja o de viver como indígenas que são, dentro dos seus costumes e da sua liberdade tão civilizadamente natural. Enquanto que o melhor caminho de evolução da sociedade, tida como “civilizada”, seja a verdadeira civilização de seu modo selvagem de pensar, ou seja, aceitando as diferenças e seguir sua jornada tecnológica, porém desenvolvida para o bem comum. Ambos os caminhos estão certos, e perfeitos dentro de suas imperfeições. As evoluções são paralelas.

E nós, “afro-ameríndios-europeus”, qual a nossa verdadeira identidade, visto que somos uma mistura de raças tão diferentes? Como diz Sérgio Buarque de Holanda, “somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra”. Sendo assim que caminho(?) de evolução(?) seguir?

Autora: Sandra Mara Baptista

Inspiração: Sociedade contra o Estado, A. CLASTRES, Pierre

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Gratidão pelo comentário!!! Paz profunda!!!