´Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele" Lévi Strauss

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Gratidão à Vida....a Natureza

Liveis - Pajé da Reserva Indígena Rio Silveira
 “...Por isso, no dia de hoje, agradeço a respiração da vida que pulsa em mim; e também á toda a terra que se perde no horizonte que meus olhos vêem.”
Kaká Werá

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Flor da Terra


Flor da terra
 Com a  a invasão do europeu no continente americano,  houve o maior genocídio da história da Humanidade. Desde então, milhões de indígenas foram cruelmente assassinados, tiveram suas terras roubadas, seus valores morais, espirituais e afetivos violentados indiscriminadamente.
Com esse último evento dos Guarani-Kaiowá, prometendo cometer suicídio, caso os tirassem de suas terras, nos leva a uma reflexão profunda a respeito desse episódio. Será mesmo um suicídio, ou estão sendo induzidos a tirarem suas próprias vidas, como um sinal de resistência, quando na verdade, são os fazendeiros com anuência do governo é que os empurram para essa iniciativa extrema? Não será mais confortável para a sociedade achar que eles se mataram porque quiseram?
Nos anos de 2000 a 2011, segundo o Ministério da Saúde, foram cometidos 555 "suicídios", entre os Kaiowá. Esse número é considerado uma das maiores taxas do mundo.
Tanta crueldade, e ainda acreditamos que essa triste iniciativa seja realmente um "suicídio"...
Quando Carl Jung, psiquiatra suiço (1875-1961) conviveu com os índios Pueblo da América entre 1925-1926, conclui que "Aquilo que do nosso ponto de vista chamamos colonização, missões aos pagãos, difusão da civilização, etc, tem outra face: a face de uma ave de rapina procurando com diligente crueldade presas distantes - uma face digna de piratas e de salteadores de estrada." (p.18)
Segue trecho de uma matéria publicada pelo Jornal MST:

"O resultado desastroso do uso da terra foi lamentado pelos líderes e professores Kaiowá em carta de 17 de março de 2007:
 - O fogo da morte passou no corpo da terra, secando suas veias. O ardume do fogo torra sua pele. A mata chora e depois morre. O veneno intoxica. O lixo sufoca. A pisada do boi magoa o solo. O trator revira a terra. Fora de nossas terras, ouvimos seu choro e sua morte sem termos como socorrer a Vida.
Para os Guarani, o que aconteceu foi um estupro, ferindo de morte a sinhazinha natureza. A relação deles com a terra é amorosa, eles não se consideram donos da terra, mas parceiros dela. Ela é o tekoha, o lugar onde cultivam o modo de ser guarani, o nhanderekó. "Guardamos com a terra" - diz o kaiowá Tonico Benites - "um forte sentimento religioso de pertencimento ao território".Não é a terra que pertence ao Guarani, mas o Guarani que pertence à terra.
O professor guarani Marcos Moreira, quando foi meu aluno no curso de formação de professores, entrevistou o velho Alexandre Acosta, da aldeia de Cantagalo (RS) que, entre outras coisas, falou:
- Esta terra que pisamos é um ser vivo, é gente, é nosso irmão. Tem corpo, tem veias, tem sangue. É por isso que o Guarani respeita a terra, que é também um Guarani. O Guarani não polui a água, pois o rio é o sangue de um Karai. Esta terra tem vida, só que muita gente não percebe. É uma pessoa, tem alma. Quando um Guarani entra na mata e precisa cortar uma árvore, ele conversa com ela, pede licença, pois sabe que se trata de um ser vivo, de uma pessoa, que é nosso parente e está acima de nós.
Os líderes Kaiowá reforçam essa relação com a terra quando lembram, na carta citada, que o criador do mundo criou o povo Guarani para ter alguém que admirasse toda o esplendor da natureza."O nosso povo foi destinado em sua origem como humanidade a viver, usufruir e cuidar deste lugar, de modo recíproco e mútuo" - escreve o kaiowá Tonico Benites, doutorando em antropologia. "Por isso, nós somos a flor da terra, como falamos em nossa língua: Yvy Poty" - completam os líderes Kaiowá.
Se a terra é um parente, a relação com ela deve ser de troca equilibrada, de solidariedade. É como a mãe que dá o leite para o filho. Ela dá, sem pensar em cobrar. Ela não cobra nada, mas socialmente espera que um dia, se precisar, o filho vai retribuir."

A sociedade ocidental, tem com a terra uma relação absolutamente comercial-capitalista. A terra é tida como um objeto de troca, cujo valor monetário é a única consideração a se fazer. Desprezam totalmente a ligação afetiva do indígena com a terra, e lhes dão o nome de povos primitivos, por simplesmente respeitarem seu habitat, por verem a terra como um organismo vivo que merece todo o respeito e reverência.
Essa forma de vida (indígena), se sustenta, ainda que com dificuldades, há milhares de anos, ao passo que nós,  produtos da selvageria capitalista, com apenas 6 ou 7 séculos, estamos decretando a morte de um planeta, que tão gentilmente nos acolheu...
É preciso repensar...é preciso reinventar uma nova forma de vida mais simpática a natureza, mas respeitosa com todos os seres viventes....
Sandra Mara Potey-Miri
Historiadora

SILVEIRA, Nise. JUNG-Vida e Obra. 22a. Edição.Editora Paz e Terra.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

PEDIDO DE AJUDA A COMUNIDADE GUARANI - KAIOWÁ




A população Guarani e Kaiowá, que vive em tekoha Passo Piraju-Dourados-MS, está sendo expulsa de suas terras, onde já estão vivendo há cerca de um ano, nas piores condições, cercados de pistoleiros, e com a total omissão do governo, têm suas vidas ameaçadas pela extrema violência e covardia. Na impossibilidade de continuarem a viver uma vida digna, prometem cometer suicídio em grupo, como uma forma de resistência a esse desrespeito vergonhoso.
“Leia, abaixo, carta de socorro da comunidade Guarani-Kaiowá. Os índios da etnia Guarani-Kaiowá estão correndo sério risco de GENOCÍDIO, com total omissão da mídia local e nacional e permissão do governo. Se você tem consciência de que este sangue não pode ser derramado, assine esta petição. Exija conosco cobertura da mídia sobre o caso e ação urgente do governo DILMA e do governador ANDRÉ PUCCINELLI, para que impeçam tais matanças e junto com elas a extinção desse povo. CARTA:

"Nós (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de despacho/ordem de nossa expulsão/despejo expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, em 29/09/2012.

Recebemos esta informação de que nós comunidades, logo seremos atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver na margem de um rio e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay.

Assim, entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena/nativo/autóctone do MS/Brasil, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira.


A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados 50 metros de rio Hovy onde já ocorreram 4 mortos, sendo 2 morreram por meio de suicídio, 2 morte em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um (01) ano, estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay.


De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.''

POR FAVOR, ASSINEM A PETIÇÃO QUE SERÁ ENCAMINHADA AOS ÓRGÃOS COMPETENTES, NUMA TENTATIVA DE IMPEDIR ESSE DESMANDO!


Para isso, acesse o link:

sábado, 13 de outubro de 2012

Xamanismo Urbano



indio lakota



Olá, amigos!
Tenho acompanhado há algum tempo um movimento na internet quem vem me despertando muito a atenção. Sites, blogs, postagens em redes sociais, falando sobre o povo Lakota, um povo indígena localizado no que hoje chamamos de território estadunidense, ou norte-americano, como alguns preferem.
Um dia, perguntei o por quê desse culto repentino aos lakotas, e responderam-me que é por eles terem uma “noção espiritual”. Desculpem-me, mas essa é uma visão muito equivocada da maioria das pessoas, pois todo indígena, independente da sua etnia, não tem noção alguma da espiritualidade. Noção quem tem, somos nós desse mundo ocidental, uma cultura europeia, empobrecida espiritualmente pelos interesses do capital.
O Indígena não vê diferença entre o mundo material e espiritual, simplesmente por que esses dois mundos não funcionam um sem o outro, portanto, não há lugar para "noção". Eles vivem em conexão permanente entre o visível e o invisível, pois tudo está pleno de sentido de Unidade.
Infelizmente, aqui no Brasil, está ocorrendo essa onda de mistificar o povo Lakota, pois o brasileiro  está sempre querendo valorizar o que vem de fora..até mesmo o que se trata de indígena! Mistificam, dizem até ser lakotas encarnados, mas sinceramente, não posso acreditar nisso, pois se fosse verdade, teríamos mais pessoas preocupadas com a situação do indígena...
O que vejo é uma necessidade que as pessoas têm de preencherem uma lacuna que o mundo materialista deixou,  de se sentirem "espiritualizadas" se apegando a símbolos externos de expressão espiritualista...
Se essa “imigração-espiritual-indígena” fosse verdade, a sociedade estaria melhor e com certeza estaria envolvida com os movimentos pró-indígenas. Mas o que vemos é justamente o contrário... Pouquíssimas pessoas querem saber como vive um indígena, ninguém ou quase ningúem deseja saber de suas lutas, de suas dificuldades com o mundo do branco. Da fome que andam passando, devido à falta de recursos naturais das poucas terras que lhes sobraram, das mortes que até hoje provocam entre comunidades inteiras, que acabam por desaparecer misteriosamente. Ninguém quer saber de nada... Porém cultuam figuras de "sábios indígenas", fazem até tambores, enfeites com penas, entretanto, nunca estudaram sequer um texto sério a respeito dessa cultura....

           Estudo essas culturas há mais de um ano. Li e leio textos profundos de verdadeira reflexão a respeito de seus costumes. Mais do que isso, convivo com indígenas, criei laços afetivos, relembrei muitas vidas que sempre vivi entre eles, e fico muito...muito triste com o que ando observando por aí... essa superficialidade na internet.
cores da bandeira estadunidense
Fotos de índios vestidos com as cores da bandeira estadunidense com nomes romanescos, falando em nome do Cristo... Bartolomeu de Las Casas, missionário que lutou pela causa indígena, desde a descoberta da América até sua morte em 1566, nos relata em seu livro,


“O cacique disse incontinenti, sem mais pensar, que não queria absolutamente ir para o céu; queria ir para o inferno a fim de não se encontrar no lugar em que tal gente se encontrasse.” (LAS CASAS,p.41)


Um cacique disse isso em rejeição às crueldades praticadas em nome de Deus sobre esses povos, e hoje o que vemos são expressões ritualísticas, com motivos cristãos se dizendo “Lakota”...
 É a perene incoerência e a total falta de informação real. Tudo isso é muito triste, e quem realmente se preocupa e vai a fundo nesse conhecimento, não tem como ficar feliz com esse folclore todo que andam inventando na internet.
 Falo como uma pessoa com heranças fortíssimas da cultura indígena, que até hoje estão não só em meu sangue, mas na minha forma de ver o mundo...Falo como uma pessoa que realmente se preocupa, que estuda e pesquisa a esse respeito, com argumentos e vivências verdadeiras...Que de alguma maneira, procura interagir e respeitar uma cultura tão rica, tão especial, tão adorável!
É muito triste, ver o que resta da cultura do meu povo sendo destruída aos poucos com tanta crueldade. O desrespeito nas cidades, nas redes sociais é muito grande, como sempre foi. Pessoas postando fotos de indiozinhos bonitos como se realmente preocupassem com eles! O meu coração sangra, quando vejo tanta futilidade, tanta fajutagem, tanta falta de verdade.
É assustador observar a  superficialidade de pessoas falando serem “xamãs”, fazendo cursos de finais de semana, e sua falta de ligação com a natureza é tão intensa, que não são capazes de criar sequer um pé de feijão em suas casas.
Touro Sentado
Troco conhecimento com amigos indígenas que estão fazendo a ponte entre o branco o índio, participo da comunidade guarani, conheço a história das principais etnias, e sei muito bem o que anda acontecendo por aí... E me dói demais, saber que o mundo ocidental está transformando essa cultura, em mais um signo de consumo espiritual...
Desculpem-me, amigos, o desabafo, mas tenho visto e lido coisas que realmente machucam qualquer pessoa realmente envolvida como eu...

            O povo indígena precisa e merece respeito. Necessita ser ouvido, ser olhado com consideração. E não olhado como um “objeto de cultura espiritual”.
Conforme Eduardo Bueno,

Na verdade, o que aconteceu é que o mecanismo empreendido para o extermínio dos indígenas simplesmente agora atingiu certa “perfeição” graças aos meios técnicos atuais: rajadas de metralhadoras e bombardeios aéreos, distribuição de alimentos e roupas previamente infectadas por micróbios, bombons envenenados... História de ontem, história de há quatro séculos, história de hoje... (BUENO, 1984, p. 25)

O indígena continua sendo desrespeitado em todos os sentidos, e religiosamente, esse desrespeito vem disfarçado de “xamanismo urbano” mostrando um costume que não é indígena, um indígena vestido com motivos estadunidenses, e assim a cultura da exploração e da conquista prevalece através dos séculos.
“Assassinaram a muitas nações, tendo chegado mesmo a fazer desaparecer os idiomas por não haver ficado quem os falasse.” (LAS CASAS,p.95)
Assim, o silenciamento continua....  

por Sandra Mara Potey-Miri

Fonte: LAS CASAS, Bartolomeu.O Paraíso Destruído.Ed. P&PM Pocket.2011

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Entrevista com Pepe Chaves


Olá!
O Blog Pela Dignidade Humana, conversou com Pepe Chaves, sobre a produção do documentário Coração Guarani. Saiba a respeito...


Pepe Chaves - jornalista Via Fanzine
O jornalista Pepe Chaves, 48 anos, nasceu em Itaúna-MG e reside em Belo Horizonte-MG, é jornalista e trabalha como editor e redator para a Rede Via  Fanzine de portais e para o diário digital Via Fanzine durante quase 20 anos. É artista gráfico, escritor, músico, compositor e produtor para a TV Fanzine, para a qual atua também como diretor de vários documentários produzidos neste primeiro ano de fundação da referida emissora digital. Escreveu juntamente com Sandra Baptista, o documentário em vídeo “Coração Guarani”, o qual também produziu e dirigiu. Esse documentário, apresentando imagens e trilha sonora originais, aborda aspectos do cotidiano da aldeia indígena guarani na Reserva Rio Silveiras, localizada em São Sebastião, litoral Norte do Estado de São Paulo.

DH: Qual é a proposta da TV Fanzine ao produzir um documentário destacando a cultura de uma sociedade indígena?
Pepe Chaves: Primeiramente, para se registrar o que se passa na atualidade nessa aldeia, que é uma das muitas pelo país que vêm sofrendo descaracterizações, sobretudo, pelo contato e as fortes influências da cultura branca. Também, pelo desejo puro de tornarmos público os costumes, a bela ritualística guarani e seus cânticos, realçando a necessidade de preservação destes valores culturais nativos. Também, porque a TV Fanzine tem por premissa, investir em produções de baixo custo – até porque, não temos recursos, vez que não contamos com nenhum apoio ou patrocinador -, mas, em contraponto, sempre envolvendo temáticas inéditas ou pouco tratadas (como é o caso aqui). Ou seja, a nossa própria falta de recursos de ordem tecnológica e orçamentária dentro da TV Fanzine, nos força a apresentar, trabalhos modestos, mas, cada vez mais, trazendo o novo, o inédito, o exclusivo. Assim, a excelência do conteúdo de nossos documentários procura compensar as deficiências técnicas. E tudo isso pode ser constatado nas produções de denodado valor histórico e ou cultural, independente da temática tratada, as quais temos trazido à luz neste último ano.

DH: Como surgiu a ideia de se produzir o documentário “Coração Guarani”?
PC: Bom, para mim tudo se iniciou quando vi algumas fotos que a Sandra Baptista e o Wilner Forini fizeram na aldeia da Reserva Rio Silveiras, em São Sebastião-SP, no final de 2011. Estas fotos mostrando as pessoas da aldeia foram postadas por um nosso amigo em comum no Facebook, o Marcus Elísio Silva, de Itaúna-MG, e quando as vi, achei maravilhosas. A meu pedido, o Marcus me colocou em contato com a Sandra Baptista, que aceitou prontamente à minha proposta para registrarmos as suas imagens (vídeos e fotos) no formato de um documentário musical.

DH: O que você espera de resposta do público acerca do conteúdo apresentado nesse trabalho?
PC: Olha, do público em geral não esperamos resposta alguma. As pessoas estão mais preocupadas com outras coisas, como novelas, intrigas da vida real ou fofocas sobre celebridades, do que com qualquer documentário que possa lhes acrescentar doses culturais que possam ser úteis agora ou em um dia. Às vezes, me espanta o desinteresse popular pela história, os costumes e as culturas, dando lugar ao apego pelo fútil e ininteligível. Todo o nosso rico arsenal cultural brasileiro está se desfazendo rapidamente e de maneira acentuada nestas últimas décadas. É um castelo de areia sob o sol quente. E, se esse canibalismo cultural, permeado pelas investidas medíocres do merchandising capitalista da mídia, das grandes produtoras e fabricantes de entretenimento e diversão já é capaz de devorar o que há de mais precioso nas culturas brancas, o que dirá com relação às culturas indígenas? Então, sabemos que poucas pessoas valorizam esse tipo de conteúdo não fictício – já obtivemos boas respostas destas -, mas esperamos que no futuro isso possa ser revertido através da Educação, até porque, o que mostramos hoje, em futuro breve, não deverá existir mais.

DH: O que chamou sua atenção para a produção desse documentário sobre a Reserva Indígena Rio Silveiras?
PC: A necessidade de se mostrar o que se passa com as pessoas do lugar. E de se perguntar o que pode ser feito para reter, estancar ou diminuir o rápido derrame dessa cultura milenar, que está escorrendo por entre os nossos dedos nesse momento. Vi que poucas pessoas sabem da existência dessa aldeia, situada praticamente aos pés da maior metrópole da América Latina. É provável que daqui a poucas décadas ou anos, essa aldeia guarani já esteja conectada de todas as maneiras possíveis e em sintonia com as demais localidades do mundo. É provável que daqui a 30 anos, os curumins que teremos em Rio Silveiras (assim como qualquer outra criança, de qualquer parte do mundo), vão querer saber é de computador, games, celulares e outros aparatos tecnológicos da época. Não mais de tacape ou arco e flecha. Aliás, temos visto que isso já ocorre atualmente: índio não quer apito; quer é computador. E isso é natural, desde que o progresso dê as caras. Então, logo, muito do que se vê registrado agora pelas nossas lentes já terá cedido o seu lugar na aldeia, para “benesses comuns”, como, eletrônica, telefonia, informática e outros recursos tecnológicos de massa. E, a sedução geral por esses aparatos já vêm deglutindo muitos aspectos dessa e de outras culturas milenares espalhadas pelo globo e de uma maneira bem acentuada nestas últimas décadas.

DH: Você já havia tido contato com tribos indígenas?
PC: Infelizmente, ainda não mantive contato diretamente em aldeias. Mas pretendo, assim que for possível, fazer uma visita à reserva Rio Silveiras. No entanto, particularmente, sempre tive uma forte ligação com a natureza e, em especial, com as matas e águas doces. Não consigo ficar por muito tempo longe desses locais, sinto certa necessidade. Sempre que posso, aqui em Minas Gerais, me refugio em locais ermos, às vezes, sozinho, e de preferência, com uma límpida cachoeira por perto. Ademais, sinto uma forte atração pelas culturas e o modo de vida dos povos aborígenes da Terra. Inclusive, já “me falaram” que fui índio xamã em outra vida...

DH: Esse contato com a cultura indígena modificou sua ótica a respeito deles?
PC: Não diria que modificou, pois já tinha certa consciência da situação enfocada, mas digo que realçou a visão que eu tinha desse “choque cultural”, onde o elemento mais forte sempre devora o menor. Até porque, acompanho já por algum tempo, embora superficialmente, o lento urbanizar das nossas aldeias indígenas. Inclusive, soubemos recentemente que há no Estado do Mato Grosso, algumas localidades que sofrem com isso, por conta do assédio de determinados pastores evangélicos contra povos indígenas. De acordo com reportagens locais, estes pastores, sem o menor respeito à cultura nativa, têm perseguido e taxado de “satânicos” os objetos e rituais dos povos indígenas, objetivando cooptá-los à religião. Nesse caso, ultrapassou a falta de respeito e virou aliciamento religioso mesmo; verdadeiro caso de polícia.

DH: Percebemos que seu cuidado foi muito grande na produção, apresentando uma trilha sonora inédita. Como foi essa escolha?
PC: A escolha foi muito natural e fiquei muito feliz com o resultado final da trilha sonora original. Também muito me alegrou o fato de fecharmos o documentário com uma música de minha co-autoria, “Índios Urbanos”, composta no longínquo ano de 1989, quando integrávamos a banda autoral Elfos, em Itaúna. E, embora tenha sido composta faz 23 anos, como se pode ver e ouvir, esta canção caiu uma luva para a temática indígena abordada nestes tempos atuais.

DH: Como surgiu a ideia de se misturar na trilha sonora de “Coração Guarani”, estilos tão distintos, como, MPB, New Age e cânticos indígenas?
PC: Olha, a ideia de se misturar música popular, com new age e cânticos indígenas ao longo desse documentário foi se fazendo e combinando por si. Tudo foi se identificando e tomando o seu lugar, se acomodando durante a edição e a montagem. E confesso que apreciei muito o resultado final, que ficou além das minhas primeiras expectativas. Foi uma bela mescla musical, que transpira exatamente àquilo o que desejamos estampar como pano de fundo às imagens e situações apresentadas. Além disso, ao longo do documentário, há várias mixagens entre estes estilos musicais, às vezes, fundindo uma música com outra nas passagens, dando ares muito particulares a este trabalho.

DH: Você pode nos falar um pouco dos trabalhos autorais da trilha sonora?
PC: A princípio, eu pensava em usar na trilha sonora a música “Ribombo” de autoria e interpretação da cantora mineira Daniela Starling e uma música de minha autoria, em parceria com Fernando Chaves e Adilson Rodrigues, chamada “Índios Urbanos”, gravada recentemente por Fernando Chaves e Noca Tourino. Mas logo depois que acertamos a produção do documentário, a Sandra Baptista me apresentou o músico e compositor paulista Fúlvio Perini (F.C. Perini) e sugeriu a inclusão de algumas músicas dele. Assim que ouvi suas músicas, a sugestão foi aceita e a entrada de Perini no projeto veio a calhar. Perini compôs com exclusividade, a belíssima música tema “Coração Guarani” que abre o documentário e que também é “salpicada” ao longo de sua extensão. Além disso, duas outras belas canções instrumentais de temática indígena, compostas e interpretadas por F.C. Perini também foram inclusas na trilha, são “Wind Voice” e “Dakota Spirit”. Depois, Fernando Chaves me apresentou o som da banda Diróki, de Belo Horizonte, que traz músicas e motivos indígenas no seu CD. Então, dessa banda utilizamos um trecho da canção “Nus” (autoria de Thelma Rosa) para compor uma vinheta que criamos, através de uma mixagem da banda Diróki com um coral de curumins, cujo resultado considero excepcional. E, por fim, me veio a ideia de incluir na abertura da parte final, a música “Crepúsculo Lunar”, do extinto grupo musical autoral Mágicos de Nós, de Itaúna, cuja letra fala de uma “ordeira aldeia lunar”. Esta canção também foi gravada recentemente pelos músicos Fernando Chaves e Noca Tourino, sendo de autoria dos compositores itaunenses, nossos queridos amigos, Maurício Lima, Anatoli Lôra e Abelardo Matos, que autorizaram a sua inclusão na trilha sonora de Coração Guarani.

DH: Fale um pouco sobre a produção desse trabalho.
PC: São 60 minutos de muitas imagens, músicas, cânticos, entrevistas e relatos. Para cada minuto produzido foram gastas algumas boas horas, que não sei estimar uma média correta. O documentário foi montado e concluído ao longo de 10 meses, apresentando duas partes, cada qual com 30 minutos de duração. Focamos detalhes acerca do modo de vida na aldeia e as particularidades daquele povo guarani, como a cultura, a arte, a educação, os rituais, entre outros. Uma preocupação da produção foi colocar tudo da maneira mais natural possível, procurando colocar o expectador dentro da realidade da aldeia.

DH: Você pretende dar continuidade a esse projeto?
PC: Com certeza, pretendemos produzir outros trabalhos similares. Há muitos valores para se mostrar sobre os povos da nossa imensa nação brasileira, mas que, por influências de ordem comercial ou por pura ignorância, são assuntos que acabam ficando de fora das pautas da grande mídia. A reserva Rio Silveiras se encaixa aí e, assim como esta, já soubemos de outras reservas indígenas em situações similares. Pretendemos, oportunamente, abordar também o que se passa nestas aldeias. Também é possível voltarmos a documentar sobre outros aspectos da própria reserva Rio Silveiras, talvez, dentro de um futuro relativamente breve.

DH: Por favor, nos deixe suas considerações finais.
PC: Gostaria de agradecer ao blog Pela Dignidade Humana por nos conceder essa oportunidade para falar desse nosso modesto trabalho que, por sinal, marca um ano de fundação da TV Fanzine (www.viafanzine.jor.br/tvf.htm), completo no dia 16/09/2012. E por fim, quero agradecer de coração a todo o povo da aldeia Rio Silveiras e também aos nossos amigos e parceiros que fizeram as reportagens, os músicos e compositores já citados aqui e demais pessoas que ajudaram a tornar possível este histórico empreendimento. E por fim, gostaria de convidar todos para assistir o documentário “Coração Guarani”, partes 1 e 2, que podem ser vistas clicando aqui.


* * *
Pepe Chaves – BH-MG-08/09/2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

100 anos de história - Pajé Antony



Nesse mês de setembro, dia 22, Tcheramói (nosso pajé) completará  101 anos de vida, fé e luta!
Completamente lúcido, ele conversou comigo numa entrevista realizada em 28 de junho de 2012, onde fala de sua vida, do seu trabalho, dos seus desejos, e finaliza, nos comovendo, contando a história da origem de seu povo, em sua língua nativa.
Essa entrevista está aqui publicada  na íntegra e faz parte da segunda parte do Documentário Coração Guarani, produzido pelo jornalista Pepe Chaves - http://www.youtube.com/watch?v=qQ2gFSdaxPU&feature=youtu.be parte 2, publicado aqui mesmo no blog!

Vamos assistir?

Documentário parte 2/2 - Coração Guarani



TV FANZINE - Coração Guarani - Documentário Parte 2/2-FINAL
- Produção e direção: Pepe Chaves
- Reportagens e imagens: Sandra Batista e Wilner Forini
- Trilha sonora original: F.C. Perini, Daniela Starling, Adilson Rodrigues, Fernando Chaves, Thelma Rosa e Pepe Chaves.
- Colaboração: Marco Elísio Silva

PARTE 1:
http://www.youtube.com/watch?v=fgsSq61Zo78&list=UU3cqzBbo4t0mrnY8Yvt2dhQ&...

- Escrito por Pepe Chaves e Sandra Baptista, "Coração Guarani" é um documentário em vídeo dividido em duas partes, mostrando o modo de vida na Reserva Indígena Rio Silveiras, localizada no sopé da majestosa Serra do Mar, no litoral norte do Estado de São Paulo.

Com produção, roteiro e direção de Pepe Chaves, as reportagens e imagens em vídeo e fotografias que compõem este trabalho foram tomadas por Sandra Baptista e Wilner Forini, durante suas visitas à aldeia guarani.

A trilha sonora original inclui canções compostas e interpretadas por F.C. Perini, Daniela Starling, Fernando Chaves, Adilson Rodrigues, Pepe Chaves e Thelma Rosa, apresentando canções de diferenciados estilos que retratam temática indígena.

Além destes compositores, a trilha sonora inclui cânticos indígenas interpretados por corais de crianças e também adultos. Além disso, é feita uma mixagem em que um coral de curumins canta com acompanhamento de contrabaixo, guitarra e bateria.

"Um dos pontos bacanas desse trabalho é que ele não é puramente um documentário informativo, mas bastante musical e artístico. Foi um prazer dirigir e editar centenas de imagens maravilhosas desse povo que vive entre a montanha e o mar", afirmou o diretor e produtor Pepe Chaves.

- ASSISTA O TRAILER DESSA PRODUÇÃO:
http://www.youtube.com/watch?v=kbf7Jh5TbOo&feature=relmfu

- Para obter mais informações sobre esta produção, busque o canal da TV FANZINE em Via Fanzine.

- VISITE O CANAL DA TV FANZINE NO YOU TUBE
E ASSISTA OUTRAS PRODUÇÕES EXCLUSIVAS:

Nasce uma estrela....


Tcheramói e Naiá
Dia 22 de maio de 2012, quando dizem que o fim do mundo está para acontecer, nasce uma pequena estrela, linda, com aproximadamente 3.300 gr, 45 cm, e uma carinha de guerreira chamada Naiá!
Ela é linda! Nossa pequena afilhadinha, filha da Marinalva, é o membro mais novo dessa família indígena que nos acolheu com tanto carinho.
Todos estão apaixonados por essa fofura, de olhinhos puxados e cabelinhos bem negros, que veio ao mundo para fazer a diferença, trazendo amor, alegria e força!
É a força de um povo que tão corajosamente tem resistido às invasões, desde que Colombo chegou à América. É a força que nunca se acaba e que luta admiravelmente pela continuação de sua cultura.




quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Documentário Coração Guarani - parte 1/2


- Escrito por Pepe Chaves e Sandra Baptista, "Coração Guarani" é um documentário em vídeo dividido em duas partes, mostrando o modo de vida na Reserva Indígena Rio Silveiras, localizada no sopé da majestosa Serra do Mar, no litoral norte do Estado de São Paulo.

Com produção, roteiro e direção de Pepe Chaves, as reportagens e imagens em vídeo e fotografias que compõem este trabalho foram tomadas por Sandra Baptista e Wilner Forini, durante suas visitas à aldeia guarani.

A trilha sonora original inclui canções compostas e interpretadas por F.C. Perini, Daniela Starling, Fernando Chaves, Adilson Rodrigues, Pepe Chaves e Thelma Rosa, apresentando canções de diferenciados estilos que retratam temática indígena.

Além destes compositores, a trilha sonora inclui cânticos indígenas interpretados por corais de crianças e também adultos. Além disso, é feita uma mixagem em que um coral de curumins canta com acompanhamento de contrabaixo, guitarra e bateria.

"Um dos pontos bacanas desse trabalho é que ele não é puramente um documentário informativo, mas bastante musical e artístico. Foi um prazer dirigir e editar centenas de imagens maravilhosas desse povo que vive entre a montanha e o mar", afirmou o diretor e produtor Pepe Chaves.

- Para obter mais informações sobre esta produção, busque o canal da TV FANZINE em Via Fanzine.

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Produção: Pepe Chaves
© Copyright 2004-2012, Pepe Arte Viva Ltda.


- Produção e direção: Pepe Chaves
- Reportagens e imagens: Sandra Batista e Wilner Forini
- Trilha sonora original: F.C. Perini, Daniela Starling, Adilson Rodrigues, Fernando Chaves, Thelma Rosa e Pepe Chaves.
- Colaboração: Marco Elísio Silva

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Uma Prece Indígena

Junho de 2011, era a primeira vez que entrávamos na Aldeia... 
Chegamos sem conhecer ninguém... Dois indiozinhos brincaram com a gente, sem falar o português, até porquê, são pequenos e só falam o guarani.... Levados pelas crianças, acabamos por conhecer a família que nos acolheu como amigos, e lá, até hoje somos muito bem recebidos como membros da família. 
Quando olhei para a Pará (o nome dela significa Oceano), senti que já a conhecia desde sempre....
Apaixonada, encantada, surpresa e feliz... foi assim que sai da aldeia naquele dia, e nunca mais, conseguimos deixá-la...
Em homenagem a esse povo que tanto amamos...

Prece Indígena